Cansados de não se identificar com as revistas que lotam as bancas de Norte a Sul da cidade, alguns amigos decidiram criar sua própria publicação. Annapaula Bloch, Kelly Cristina, Leander Leão, Leandro Santos e Nayara Nogueira criaram então a Sou Dessas, revista que mostra o estilo do jovem da favela e terá sua segunda edição lançada em fevereiro.
Os cinco amigos têm entre 16 e 17 anos e se conheceram na escola, onde cursam o ensino médio. Kelly, Leandro e Nayara moram no Morro do Borel, Annapaula no Morro do Salgueiro e Leander vive no Morro da Formiga, na Tijuca. Juntos, tiveram a ideia de levar a “neguinha do cabelo enrolado” para as páginas de uma revista. “A gente via que o estilo do jovem da favela não era reconhecido, então primeiro resolvemos fazer um desfile, mas vimos que isso não faria a opinião do jovem ser mostrada à sociedade, então veio a ideia de fazer uma revista falando da moda do jovem da favela”, conta Annapaula Bloch, que escreve as reportagens junto Nayara Nogueira.
Annapaula e Nayara pesquisam as pautas nas suas comunidades e nas redes sociais: “A gente vê qual é a moda do momento na favela e o que é mais comentado no facebook, o que está na boca da galera”, diz Annapaula. “Toda semana fazemos uma reunião no Morro do Borel para rever as matérias, ver quais estão prontas e selecionar para a revista”, diz. Tudo é decidido em grupo: Kelly e Leandro são os produtores de moda e Leander faz de tudo um pouco. “Ele ajuda a gente no que for preciso”.
A Sou Dessas traz dicas de roupas e looks das lojas das favelas cariocas (como a Estilo Favella, da Cidade de Deus), perfis de modelos das comunidades, reportagens sobre estilo e comportamento – com temas como o passinho, o corte do Jaca e a volta do “black power” –, uma seção dedicada a “moda das unhas” e a página “Dicionário da Favela”, com gírias usadas pelos jovens. Annapaula dá alguns exemplos: “ “Ta osso” é “está ruim”, “suave” quer dizer “de boa”, “total” é “tudo ok”, “ka-o” é “deu ruim”, etc.”, explica.
Com o slogan “Diferente das outras”, a publicação pretende mostrar o estilo dos jovens da favela sem segregar – eles querem mostrar novas perspectivas sem defender a ideia de uma cidade partida: “A gente não se sente diferente dos outros jovens, para nós não existe um estilo certo e errado, a gente vive a realidade do nosso território, e é isso que as outras revistas não mostram e a gente quer mostrar. O slogan da revista é ‘diferente das outras’, tem gente que acha que é porque nós somos diferentes, mas a gente não é diferente de ninguém, a revista que é”, diz Leander.
Apesar de as favelas estarem aparecendo cada vez mais na mídia, Annapaula acha que a moda local ainda não é reconhecida ou valorizada. “A mídia mostra a moda da favela de uma maneira vulgar, e não é assim. Poucas novelas mostram esse estilo e, quando mostram, é sempre de forma exagerada”, diz. “Aqui na favela tem gente de todos os estilos: hippie, rock, patricinha… e é isso que a gente quer mostrar.”
Financiada pela Agência de Redes para a Juventude, a iniciativa recebeu apoio dos moradores das favelas ondem vivem os cinco jovens. Qualquer morador das comunidades pode sugerir temas, dar dicas e até ser modelo da publicação, e muitos se interessam: “a Sou Dessas está bombando”, comemoram seus criadores. A primeira edição chegou às bancas em junho do ano passado e esgotou, e a segunda será disponibilizada online em fevereiro. Com tanto sucesso, Nayara, Kelly, Leandro, Annapaula e Leander pretendem estimular outros jovens a mostrar seus estilos e ideias: “Jovens, abram suas mentes, não tenham medo de dizer o que pensam, jovem de favela também faz história”.