No último dia 7 de maio ocorreu o II Seminário Universidade, Cultura e Periferia no Centro Cultural da Penha, organizado pela Rede das Culturas da Zona Leste Paulistana, no qual teve por objetivo tratar da gestão das culturas populares e tradicionais e o lugar das periferias na universidade.
Na ocasião, a usineira Mabel pode participar da mesa A gestão cultural nas culturas tradicionais e populares, com os professores Alberto Ikeda e José Márcio Barros, o cantor e compositor Renato Gama e, como mediadora, a jornalista e poetisa Elizandra Sousa e compartilha aqui conosco suas impressões e anotações sobre o debate, no qual, segundo ela, "foi intenso, porém alegre e com direito à música".
Formalização, cultura popular e periferia:
A mesa foi introduzida pelo professor José Márcio Barros, que discorreu sobre alguns termos utilizados no âmbito da cultura e fez uma colocação referente às determinadas práticas e exigências de formalização das entidades e grupos culturais, por parte do Ministério/Secretaria da Cultura, que, segundo ele, acabam dificultando o acesso dos grupos de cultura popular e tradicional aos financiamentos e recursos financeiros para autossustentação.
O compositor Renato Gama comentou sobre a dificuldade de um grupo da periferia conseguir ser escolhido para alguma apresentação ou evento devido a essas burocracias institucionalizadas. Exemplificando: se na "concorrência" aparecer um grupo com mais recursos financeiros, no qual consegue desenvolver fotos e gravações de ponta, eles terão preferência na contratação. Mas é preciso lembrar do fato de que muitas vezes quem ensinou para esses grupos com mais renda foram justamente os músicos preteridos da periferia.
Uma outra reflexão que Renato trouxe à mesa foi sobre a importância do espaço para a perpetuação da cultura popular e tradicional na cidade. Segundo ele, hoje não há espaço nas casas para a realização das atividades populares como antigamente. Com base em suas experiências, ele pontuou que foi no quintal de casa, ouvindo os discos de samba rock, e participando das rodas de samba que ele conheceu as referências na quais, posteriormente, marcou sua identidade artística e cultural".
Aprendizado e descobertas
Entre tantos assuntos e opiniões debatidas, Mabel conta que ficou intrigada com diferenças que ainda desconhecia. Quando o professor Alberto Ikeda se manifestou, ele criticou esse formato de editais e formalização dos grupos de cultura popular e cantou alguns sambas de roda baianos. "O mais novo para mim foi saber que há diferença entre o 'batuque' do samba baiano com o paulista. Isso na verdade foi o que mais me provocou na hora. O que eu sei sobre a cultura negra (mesmo senda negra)? Por que não temos mais esse contato e conhecimento sobre os sambas, as danças afros, as religiões? Lembro que quando era criança, a música era muito marcante para a minha família, principalmente a do meu pai, e também era no quintal que ocorriam as festas. Hoje, infelizmente, pouco sei. Isso não se perpetuou por muito tempo", diz Mabel.
Ela ainda enfatiza o quanto esse ponto mexeu com ela e a importância de incentivar isso nas novas gerações. "A escola não incentiva isso, não valoriza as nossas tradições, a nossa cultura popular, seja ela a negra, a indígena. Muito triste ouvir sons que marcaram gerações e não conseguir cantar", finaliza.