Uma turma de jovens. Um projeto. Uma praça pública. Uma ideia que saiu da sala de aula para fora, para as ruas, para o povo que vive e convive com uma das doenças que até então era diagnosticada em pessoas da classe média, e hoje é encontrada em quase todas as classes: a depressão. Um distúrbio que durante muito tempo, não falado, se tornou comum e está presente na periferia. No jovem da comunidade.
A 5ª turma do Projeto 1ª CENA, do CEU Cidade Dutra, também trabalhou como tema central o etnocentrismo. Dentro deste assunto foi feito um recorte, por sugestão dos próprios educandos (mesmo processo que aconteceu no CEU Inácio Monteiro), onde se destacou a questão da depressão na vida moderna.
Mediante tamanho desafio, os educadores do programa contribuíram para o desenvolvimento desse recorte trazendo algumas referências, como textos, livros, filmes e dinâmicas com a argumentação - sugerida pela educadora Karen Nunes - “como abordar uma pessoa que esteja passando por esse problema”, além da participação de profissionais da área como as psicólogas Cleusa Sakamoto, que também é professora universitária, e Soraya Souza Cruz, em palestras durante as oficinas.
“Experiência enriquecedora, aprendi tanto quanto ensinei. Conheci pessoas maravilhosas e inspiradoras”, comenta Beatriz Mei, educadora de cidadania e política.
A educadora Camila Silva faz uma analogia sobre o antes e depois dos alunos participantes: “cada educando é como uma folha em branco, algumas chegam lisas e com o desejo de serem preenchidas. Já outras chegam marcadas, os motivos em muitos casos são descobertos ao longo do processo. Há casos que a folha chega em retalhos, ainda que buscando motivos para se recompor”, descreve.
A frente da oficina de comunicação e expressão, ela nos conta como foi fazer parte desse processo: “Tentei mostrar a importância deste ato que é inerente à vida, e que precisa ser usada de dentro pra fora, isto significa também estar atento com o corpo e de que forma ele se relaciona com o mundo. Convivi com essa turma por mais de um ano e ao longo desse período tive a missão de apresentar as possibilidades para que o educando pudesse se fortalecer e preencher esse papel em branco com sua própria história”, explica Camila.
Diante deste cenário a 5ª turma do Dutra apresentou em praça pública, como trabalho de conclusão de curso (TCC), o espetáculo ‘Tempo sem Canto’, que resultou na Cia. Tiras de Teatro. Para Leonardo Cicero, educador de teatro, o projeto é um encontro de ideias e ideais transformadores: “Pensar, ou repensar a educação é uma tarefa que torna-se, felizmente, cada vez mais urgente, um bem necessário. Mentes inconformadas com o estado de caos natural, é exatamente assim que eu me sinto a cada atividade desenvolvida com os nossos educandos, em cada reunião de equipe, nas quais o diálogo horizontal é a base para a construção de cada uma de nossas realizações”.
Ele nos conta como foi desenvolvido a proposta da apresentação: “O intento da proposta era fazer um teatro que fosse no caminho contrário à produção elitista, que colocasse o ator como cidadão ocupante da rua, o seu espaço público para pensar, agir e transformar. E após tantos meses discutindo política, sociedade, história e arte, não pareceu melhor escolha do que concluir toda esta trajetória na rua, dialogando com os tempos sombrios que rondam nosso Brasil e o mundo”.
E, é claro, a oficina de referência e reportório também teve a sua importância. “É incrível ver cada um deles crescendo ao longo das aulas, a dedicação e interação conosco é puro encantamento. O conhecimento é entregue a eles, e a partir daí a troca de experiências nos faz crescer junto com eles”, diz Manoela Silva, educadora.
Se você ficou interessado em prestigiar o desenvolvimento desses jovens, a próxima - e última apresentação - será dia 07 de outubro, na Praça Escolar, nº 100, Cidade Dutra, zona sul de São Paulo.